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sábado, 9 de abril de 2011

Cortes para todos, menos para os juros

Por Luis Nassif


Mais cedo ou mais tarde, a política econômica vai ter que chegar a um meio termo. Assim não dá. Há que se ser cauteloso, não embarcar em aventuras fiscais, tratar o mercado com racionalidade, para evitar estouros da boiada.

Mas há algo de profundamente irracional nessa estratégia econômica que procura se impor pela racionalidade.

No ano passado foram tomadas medidas prudenciais, em contraposição à política pavloviana de aumentar os juros.

Há sinais desencontrados na economia, com setores aquecidos e outros em processo de desaquecimento, frutos justamente das medidas adotadas. Ora, se existem esses desencontros, é sinal de que o aquecimento é setorial, mais na construção civil, menos na indústria automobilística. O único dado mais generalizante é o do desemprego aberto – que caiu bastante. Mas mesmo na Fazenda há dúvidas sobre os sinais emitidos pelo mercado de trabalho.

Ora, se o aquecimento se dá no mercado automobilístico, estiquem-se os prazos de financiamento – como foi feito. Se se dá no mercado imobiliário, reduzam-se os incentivos e o crédito. Há um conjunto de ferramentas permitindo atuar diretamente sobre os setores aquecidos.

Quando se aumentam os juros, afeta-se a economia como um todo – como se todos os setores estivessem aquecidos. E com todas as contraindicações possíveis:


1. Aumento dos encargos da dívida.

2. Mais cortes nos gastos públicos para garantir a meta de redução da relação dívida/PIB.

3. Mais dólares entrando provocando apreciação cambial e mais custo fiscal, com a necessidade de comprar dólares e ampliar as reservas cambiais.

4. Encarecimento do investimento, pelo aumento da taxa de retorno esperada.


Então, qual a razão?

O governo Dilma conquistou adesões devido ao fato de ser racional, dos agentes econômicos esperarem decisões racionais e responsabilidade na condução da política econômica.

Então qual a razão dessa demora em abrir a discussão sobre os juros? Qual a razão de anunciar o aumento da TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo) afetando todos os financiamentos do BNDES voltados para ampliação da capacidade produtiva?

Como justificar todos os cortes sem discutir abertamente os efeitos da Selic sobre as contas públicas, já que existe uma relação direta entre ambos? Seria até uma maneira de legitimar os cortes para todos os setores afetados.

A racionalidade exige muitos sacrifícios: inclusive os de investir contra os dogmas irracionais do mercado.


* Luis Nassif é jornalista

Fonte: Blogo do Nassif

 
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