Protesto em Brasília de estudantes e professores reivindica 
10% para a educação - Foto: Marcello Casal/ABr
O debate sobre o volume de recursos destinados à 
educação pública ganhou novo impulso nas últimas semanas. Depois de 18 
meses de tramitação, a Comissão Especial do Plano Nacional de Educação 
(PNE) aprovou, em 26 de junho, a aplicação de 10% do Produto Interno 
Bruto (PIB) do país em políticas educacionais.
O 
projeto de lei 8035/10, que cria o Plano Nacional de Educação (PNE), 
define as principais diretrizes para o setor nos próximos dez anos. 
Presente na meta 20 do Plano, a proposta de investimento do PIB foi o 
ponto que mais causou divergências. Depois de muitas negociações, o 
relator da matéria, Ângelo Vanhoni (PT-PR), apresentou um índice de 8% 
do PIB, acordado com o governo. Por fim, Vanhoni acatou um destaque do 
deputado Paulo Rubem Santiago (PDT- -PE) que aumentava o patamar de 8% 
para 10%, como reivindicavam alguns parlamentares e organizações 
sociais.
De acordo com o texto aprovado, os 
recursos serão ampliados dos atuais 5% para 7%, no prazo de cinco anos, 
até atingir os 10% ao fim de vigência do plano em 2023. O texto segue 
agora para o Senado e, na sequência, para a sanção da presidenta Dilma 
Rousseff.             Repercussão
Ainda na 
Câmara, a decisão foi amplamente comemorada por deputados, e parte de 
movimentos e organizações sociais também se mostraram satisfeitos. “É 
uma grande vitória da sociedade brasileira, que há muitos anos vem 
reivindicando que o Brasil invista 10% do seu Produto Interno Bruto em 
educação”, afirma o presidente da Confederação Nacional dos 
Trabalhadores em Educação (CNTE), Roberto Franklin Leão.
Para
 outras entidades, porém, a decisão está longe de merecer comemoração. 
“Trabalhar com a ideia de que nós teremos 10% do PIB destinado à 
educação em 2023 não pode ser considerada uma vitória”, diz a 
secretária-geral do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de 
Ensino Superior (Andes) da Regional Rio de Janeiro, Sônia Lúcio 
Rodrigues de Lima.
Prazo
A
 principal crítica está relacionada ao prazo de cumprimento do Plano, 
que prevê a destinação de 10% a daqui somente uma década. “É um tempo 
absurdo porque o sistema vai aumentando cada vez mais sua demanda por 
educação”, argumenta Sônia.
A reivindicação por 
mais investimentos do Produto Interno Bruto em educação é antiga e já 
estava prevista no Primeiro Plano Nacional de Educação, elaborado em 
1996 por um conjunto de movimentos sociais. 
Entretanto, o então 
presidente Fernando Henrique Cardoso vetou a meta que direcionaria 7% do
 PIB. O veto foi mantido pelo presidente seguinte, Luiz Inácio Lula da 
Silva, ao contrário do que havia prometido durante sua campanha 
eleitoral.
Para o professor da Faculdade de 
Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher
 a aprovação representa o reconhecimento, por parte do Congresso, de que
 a educação não recebe a quantidade suficiente de recursos. Entretanto, o
 prazo de dez anos para se chegar à meta está longe de ser um fato 
positivo.
“Apostar em dez anos é novamente jogar 
para um futuro indeterminado, tal como queriam fazer no PNE de 2001. 
Sempre há uma promessa de que o futuro será melhor, mas esse futuro 
nunca chega”, frisa.
Já o coordenador da Campanha
 Nacional pelo Direito à Educação (que reúne mais de 200 grupos e 
entidades), Daniel Cara, defende o prazo e garante que o período de dez 
anos será necessário para que a União se adeque à mudança. Apesar de ser
 o ente que mais arrecada, a União é o que menos investe em educação. 
Hoje, a cada real gasto no setor, 20 centavos vêm da União, enquanto os 
outros 80 são divididos entre estados e municípios. “Fizemos essa 
proposta dos dez anos porque é aquilo que o Estado consegue absorver. 
Nossa preocupação é ser coerente com o ciclo orçamentário brasileiro”, 
afirma.
“Acho que é um prazo que pode ser dado, é
 um prazo bom, de quem sabe que você não muda as coisas de um dia para o
 outro”, afirma Leão.
Sônia, porém, garante que 
continuará a mobilização para a aplicação dos 10% já no início do Plano.
 “Vamos continuar fazendo todo o esforço, em conjunto com outros 
movimentos sociais, no sentido de antecipar ao máximo possível a 
execução dessa meta, que no nosso ponto de vista, tem que ser para já”, 
afirma.
Para o professor do Programa de Pós- 
-graduação em Políticas Públicas e Formação Humana da Universidade do 
Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Gaudêncio Frigotto, a gravidade da 
situação educacional brasileira justifica a aplicação imediata dos 10%. 
“Nós deveríamos ter um movimento inverso. Mais de 10% no primeiro e 
segundo ano e, depois que você venceu essa dívida enorme com a educação,
 pode chegar ao patamar de 6 ou 7%”, diz.
Segundo dados do IBGE, o Brasil possui 14 milhões de analfabetos e 30 milhões de analfabetos funcionais.
Batalha
As
 próximas disputas prometem ser duras, principalmente junto ao governo, 
que já tem dado mostras de insatisfação com a aprovação da proposta. Em 
declaração à imprensa, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o
 aumento de recursos para a educação pode “quebrar” o Estado. “É uma 
visão de quem está preocupado única e exclusivamente em pagar os juros 
altíssimos da dívida, em manter superávit primário à custa da 
sociedade”, critica o presidente da CNTE.
O 
próprio ministro da Educação, Aloizio Mercadante, deu sinais de 
descontentamento, ao afirmar que o aumento do investimento será uma 
“tarefa política difícil de ser executada”.
“O 
governo perdeu na Câmara, e agora está tentando mobilizar a sociedade, 
via grande imprensa, contra o Plano Nacional de Educação, não é nem só 
contra o investimento em educação. E o próprio ministro Aloizio 
Mercadante tem se prestado a esse papel”, critica Daniel Cara.
Toda
 a movimentação, para Leher, dá sinais de que o governo não aprovará o 
texto. “Tudo indica que temos um veto à vista”, projeta.
Preocupação
| Protesto em Brasília de estudantes e professores - Foto: Marcello Casal/ABr | 
A
 aprovação da proposta junto ao Executivo, no entanto, não é a única 
preocupação. Para Leher, será necessário que o governo federal sinalize 
de onde sairão os recursos para investimentos. De acordo com ele, o mais
 justo é que seja utilizado o dinheiro que, atualmente, é utilizado para
 pagamento dos juros da dívida pública. “Não pode haver uma guerra agora
 entre educação e saúde, ou educação e reforma agrária. Temos que 
garantir que esses recursos adicionais tenham como origem essa imensa 
sangria neocolonial da dívida”, diz. Atualmente, a União investe apenas 
3% de seu orçamento em educação.
Outro ponto 
sensível, para o professor Gaudêncio Frigotto, será a distribuição das 
verbas, sobretudo nos municípios. Ele lembra que é comum, nas 
prefeituras, que as verbas para educação acabem em outras pastas. “Em 
muitos municípios, principalmente os pequenos, e que são muitos no 
Brasil, o secretário de Educação sequer assina o que vai gastar”, 
destaca.
Outro ponto problemático, segundo Leher,
 é o fato de o texto não especificar que o investimento deve ser 
direcionado à educação pública.“Não adianta passar para 7% do PIB e 
passar tudo para a Fundação Oi, Fundação Roberto Marinho. Temos que 
garantir que esses recursos tenham de fato destinação pública”, aponta.
Tantas
 fragilidades, para Frigotto, indicam que a efetividade da aplicação dos
 10% do PIB em políticas educacionais deve ir além da aprovação do 
texto. “A lei é uma primeira etapa. Mas a lei só se aplica se existir 
força social de manejo e controle desse fundo público destinado à 
educação”, diz.
Fonte: Brasil de fato
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