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quinta-feira, 9 de junho de 2016

A sabedoria dos livros infantis: 8 trechos incríveis de A Bolsa Amarela, de Lygia Bojunga



A Bolsa Amarela foi o primeiro livro que eu li. Eu estava na Classe de Alfabetização, tinha mais ou menos 6 anos, e nunca me esqueci nem da história, nem da capa, nem do nome da autora e muito menos do que o livro me ensinou.

Ele conta a história de Raquel, uma menina que tem 3 grandes vontades: crescer, ser menino e escrever. Sem saber o que fazer com essas vontades que não param de crescer e sem encontrar eco na família, atolada demais para dar atenção às vontades da única criança da casa, Raquel as enfia numa bolsa amarela velha que ganha de uma tia. Mas as vontades não param de crescer, e a bolsa vai ficando sem espaço para aquelas coisas enormes que moram dentro dela.

Apesar de ser um livro infantil, A Bolsa Amarela é leitura profunda: fala para nós, adultos, talvez até mais do que para os pequenos. Talvez porque já tenhamos aprendido, à duras penas, que às vezes precisamos de bolsas amarelas pra guardar nossas vontades.
Selecionamos, então, 8 trechos do livro que vão nos mostrar que as crianças, às vezes, sabem mais da vida do que quem já é gente grande:

“(…) ela contou que eu continuava a maior inventadeira do mundo. Aí foi aquela crise: o pessoal todo ficou contra mim. Fui dormir na maior fossa de ser criança podendo tão bem ser gente grande. Não era pra eu ter inventado nada; saiu sem querer. Sai sempre sem querer, o que é que eu posso fazer?”

 

“Fiquei uma porção de dias pensando no meu pessoal pra ver se entendia por que é que eles zangavam tanto comigo. Acabei desistindo também: gente grande é uma turma muito difícil de entender.” 


“Se o pessoal vê as minhas três vontades engordando desse jeito e crescendo que nem balão, eles vão rir, aposto. Eles não entendem essas coisas, acham que é infantil, não levam a sério. Eu tenho que achar depressa um lugar pra esconder as três: se tem coisa que eu não quero mais é ver gente grande rindo de mim.”

 


“Às vezes a gente quer muito uma coisa e então acha que vai querer a vida toda. Mas aí o tempo passa. E o tempo é o tipo de sujeito que adora mudar tudo. Um dia ele muda você e pronto: você enjoa de ser pequena e vai querer crescer.”
 

“Eu achei aquilo tão impressionante! É claro que eu já tinha visto gente com mania de dizer que a gente tem que ganhar dos outros, tem que ser a primeira disso, a primeira daquilo, mas nunca pensei que alguém tinha que ganhar tanto assim.”

 

“Fui fingindo o tempo todo que a bolsa amarela não pesava tanto assim. Mas pra falar a verdade ela pesava mais que um elefante.”

 

“E de repente todo mundo tava lá lutando pra abrir a minha bolsa. Minha. Minha. Minha! E eu ali sem poder fazer nada. Ah, se eu fosse gente grande! Quem é que ia abrir a minha bolsa assim à força se eu fosse gente grande? quem?”

“- Você não vai mais esconder as vontades dentro da bolsa amarela?
– Não. Elas viram que eu tava perdendo a vontade delas, então perguntaram se podiam ir embora. Eu falei que sim. Elas quiseram saber se podiam ir que nem pipa e eu disse ‘claro, ué’.”



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