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segunda-feira, 7 de novembro de 2016

"A boa formação de professores tem de ter estreita ligação com a prática"



Entrevista com Katherine Merseth, diretora do Programa de Formação de Professores de Harvard


A melhoria no sistema educacional, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, tropeça na falta de uma visão clara sobre o que queremos da Educação. A matemática Katherine Merseth, diretora do Programa de Formação de Professores de Harvard, repetiu essa crítica durante visita a São Paulo, a convite do Instituto Península. Docente de um dos cursos mais concorridos da Escola de Graduação de Educação, ela defende que treinar professores para a prática pode reverter o baixo desempenho nas escolas. 

O que torna um professor excelente? 

KATHERINE MERSETH Ele tem uma conexão forte com o aluno, identifica as necessidades de aprendizagem dele, se destaca por dominar o assunto que leciona e por escolher a melhor maneira de ensiná-lo para a turma. A combinação desses últimos três fatores se resume no termo “pedagogical content knowledge”, cunhado pelo professor Lee Shulman, da Universidade de Stanford, na Califórnia. A questão maior é entender como cada um aprende. Há uma explosão de saberes em torno da ciência cognitiva, com imagens do cérebro e estudos sobre quais partes dele são ativadas quando se olha, conversa, lê e escreve. A neurociência tem o poder de alterar a prática dos professores, mas infelizmente ainda não é tema de formação. 

O que não pode faltar em uma boa formação de professores? 

Uma estreita ligação com a prática, incluindo observações e análises de sala de aula, com a ajuda de mentores. Além do conhecimento profundo do conteúdo da disciplina escolhida, é preciso, claro, estudar psicologia do desenvolvimento e ciência cognitiva. 

Por que a Matemática é sempre considerada problema? 

A maneira como a disciplina é apresentada na escola faz toda diferença. Um grupo de pesquisadores descobriu que os alunos indicaram uma forte dependência do professor, considerando-se incapazes de aprender sozinhos. Mas a crença mais deformante na sociedade americana é de que a Matemática é difícil e dominada por uma minoria com talentos e habilidades especiais. 

Como assim? 

Acreditam que você tem talento para Matemática ou não! Mães americanas, japonesas e chinesas foram questionadas sobre quais fatores, entre habilidade, esforço, dificuldade da tarefa ou sorte, colaboravam para que seus filhos fossem bem-sucedidos na escola. As americanas colocaram a habilidade em primeiro lugar, já as asiáticas privilegiaram o esforço. Crianças japonesas e chinesas se esforçam porque suas mães dão valor à dedicação. Acreditar em habilidade inata não só minimiza a responsabilidade pessoal, mas também contribui para que os maus resultados em Matemática sejam socialmente tolerados. 

Como alterar essa visão distorcida? 

Esforços só com foco na revisão curricular ou apenas na formação inicial e continuada dos docentes não vão funcionar. Mudar o currículo sem transformar a prática de ensino ou aumentar o interesse social enquanto forem ministrados os mesmos conteúdos entediantes seria uma estupidez. Em vez disso, é necessário um esforço multifacetado e abrangente, que permita expandir as possibilidades do aprendizado da Matemática, área em que houve descobertas fascinantes nas últimas décadas. Só que nenhuma delas ainda é abordada com regularidade nas escolas.
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