Por Marcelo Marin*
O segundo semestre sempre foi um período em que o profissional da educação passa a temer por seu emprego, e para aumentar a tensão surge esta nova variável: o ranking do ENEM.
Vejamos conceitualmente o que pretende este instrumento federal:
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é uma prova composta por quatro avaliações de múltipla escolha (com 45 questões cada) e uma redação. O Ministério da Educação pretende verificar o domínio de competências e habilidades dos estudantes que concluíram o ensino médio. Contemplando quatro áreas do conhecimento e redação:
‘Ciências Humanas e suas Tecnologias’ abrange História, Geografia, Filosofia e Sociologia.
‘Ciências da Natureza e suas Tecnologias’ abrange Química, Física e Biologia.
‘Linguagens, Códigos e suas Tecnologias’ abrange Língua Portuguesa, Literatura, Língua Estrangeira (Inglês ou Espanhol), Artes, Educação Física e Tecnologias da Informação e Comunicação.
‘Matemática e suas Tecnologias’ abrange a Matemática em dois segmentos: Geometria e Álgebra.
‘Redação’ compreende cinco competências, muito claras e bem definidas.
A pontuação das questões do Enem é feita por uma metodologia chamada Teoria da Resposta ao Item (TRI), com esta metodologia, o item (a questão), há perguntas fáceis, intermediárias e difíceis, com pontuações diferentes.
O Enem tem três funções institucionais:
– Sistema de Seleção Unificada (Sisu), o estudante pode escolher dois cursos de graduação, de todos os estados. O sistema gera diariamente notas de corte das carreiras e assim o estudante pode ter ideia se sua pontuação é suficiente para ser aprovado no curso de sua preferência
– Programa Universidade Para Todos (Prouni), este programa concede bolsas de estudo parciais, de 50%, e integrais, a estudantes de baixa renda. Para participar, o estudante precisa ter tirado no mínimo 400 pontos.
– Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), que concede bolsas restituíveis a estudantes que não tem condições de pagar as mensalidades da graduação. O Fies funciona como um empréstimo: o aluno depois de formado paga a dívida ao governo…
Este é o remédio que vem sendo adotado para reverter distorções e dentro de uma ótica inclusiva tem sido o principal instrumento desta política afirmativa governamental.
Como boa parte dos remédios provoca efeitos colaterais, o ENEM tem inspirado algumas escolas a distorcer suas funções originais com a utilização do próprio Ranking:
-Criação de um Ranking nacional de escolas, acirramento da competição, sobretudo entre escolas privadas.
– Aparecimento de cursinhos que preparam para a prova do ENEM.
-Escolas particulares que concedem bolsas de estudo no ensino médio para estudantes (de escolas públicas e privadas) pré-selecionados em rigorosos exames, criando um time de pilotos, que tem como objetivo elevar a média do ENEM da escola.
– Escolas que criam calendários com aulas de segunda a sábado, estimulando a competição, criando um sistema em que as avaliações são feitas as sábados à tarde e o ranking interno entre os alunos é publicado quinzenalmente.
– Escolas que criam novas razões sociais registrando pouquíssimos alunos (os melhores) e turbinando o resultado entre os primeiros lugares.
– Escolas que “sorteiam” vagas exclusivas (e disputadíssimas) na educação infantil, pois o ensino médio da escola está entre os primeiros do Ranking.
As famílias passam a avaliar as escolas, sobretudo a partir do Ranking, e isto é lamentável, pois esta tabela não avalia o trabalho pedagógico constante que respeita a alteridade e a diversidade dos educandos, pois o jovem que completa o ensino médio não é um produto que deve ser entregue a sociedade com um selo de Ranking nitidamente conteudista.
Nesta perspectiva muitas instituições que se preocupam com a formação integral do aluno como escolas comunitárias, confessionais, biculturais e filantrópicas são cobradas pelo mercado (entenda-se famílias que vão escolher a escola para seus filhos) e a posição da escola passa a ser um elemento importante para as famílias, portanto muitas escolas com este perfil passam a ser pressionadas a rever seus resultados no ENEM.
No mundo ideal pode-se argumentar que a escola tem seu Projeto Pedagógico e que cada um procure uma escola que se adeque a suas concepções e aspirações; mas no mundo real as escolas que não se reposicionarem perderão alunos e fecharão classes, consequentemente perderemos postos de trabalho. Entenda-se que o efeito dominó sobre as equipes de profissionais da educação é real e desestabilizador, pois, sobretudo os professores, passaram a ser avaliados também a partir deste RANKING, e que muitas vezes este instrumento passa a “justificar” demissões na escola privada.
Este é um aspecto preocupante que a manipulação do RANKING do ENEM vem causando, pois como já dissemos é um “efeito colateral” que causa tensões adicionais e indesejáveis para os profissionais da educação.
*Diretor do Sinpro SP e professor da rede particular e municipal de São Paulo
Diretoria do Sinpro Macaé e Região.
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