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quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Brasil mantém últimas colocações no Pisa





País teve desempenho abaixo da média em ciências, leitura e matemática, mas ampliou número de alunos escolarizados


Divulgados nesta terça-feira 6, os resultados do Pisa 2015, mais importante exame educacional do mundo, elaborado a cada três anos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) com o intuito de aferir a qualidade, equidade e eficiência dos sistemas escolares, mostraram mais uma vez os alunos brasileiros nas últimas posições do ranking.

O Pisa 2015 testou cerca de 540 mil estudantes de 15 anos de idade de 72 países. Nas três áreas avaliadas, ciências, leitura e matemática, os estudantes brasileiros tiveram desempenho abaixo da média da OCDE. Se em ciências e leitura os dados revelaram estagnação, em Matemática houve uma pequena queda na performance.

Entre as 72 nações, o relatório mostrou o País na 63ª posição em ciências, na 59ª em leitura e na 66ª colocação em matemática. Em ciências, os alunos brasileiros obtiveram 401 pontos contra 493 pontos da média da OCDE, em leitura, 407 pontos ante 493, e em matemática, 377 pontos contra 490.

No quadro geral, quase metade (44,1%) dos estudantes brasileiros obteve performance abaixo do nível 2 da prova, considerado adequado. Cerca de 56% pontuaram abaixo do nível 2 em ciências e metade dos alunos ficaram abaixo do adequado em leitura. A área de matemática revelou o quadro mais crítico: 70,25% estão abaixo do esperado.

Para o especialista em avaliação Ocimar Munhoz Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP, no entanto, os resultados são compatíveis com as edições anteriores e condizentes com a realidade educacional brasileira. “O Pisa não avalia tudo que a escola faz, mas mede aspectos importantes. A verdade é que o exame sempre mostrou resultados baixos e preocupantes. Mas se você analisar a curva de tendência, a projeção é que o Brasil passe, inclusive, a média da OCDE. O problema é que isso vai levar muito tempo”. Segundo o professor, para passar a média de leitura, por exemplo, o País levará 58 anos.

Para Patrícia Mota Guedes, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Fundação Itaú Social, há duas análise que podem ser feitas a partir dos resultados do Pisa. Uma é comparar o Brasil aos outros países, já outra é compará-lo à sua própria condição. “Não surpreende o fato do Brasil estar abaixo da média da OCDE. Aliás, foi observada uma tendência de estagnação não só aqui, mas em diversos países. Só uma dúzia conseguiram avanços significativos como Cingapura e Macau, que já possuem um histórico de alto rendimento, e alguns poucos que tiveram uma alavancada apesar do histórico de baixo desempenho como a Colômbia”, diz.

Além de evidenciar o quanto o País precisa avançar em estratégias estruturantes para a melhoria da educação, os resultados do Pisa, diz Patrícia, servem para apontar o que outros países estão fazendo de correto e, portanto, quais são as políticas educacionais de sucesso. “Entre os países que se destacaram no exame, vemos um contexto de valorização do professor muito forte, tanto no ponto de vista da carreira, da formação inicial e continuada, como nos critérios de seleção”, diz.

Na análise de Alavarse, os resultados da avaliação, inclusive, derrubam o argumento do governo para reformar o Ensino Médio. “Como os alunos que fazem a prova têm 15 anos, os dados refletem mais o Ensino Fundamental do que o Médio. Logo, o diagnóstico está errado, o ponto crítico são os anos finais do Ensino Fundamental, de onde os alunos estão saindo com proficiências muito baixas”, diz.

Baixo investimento X ampliação da escolarização

O Pisa 2015 também apontou a defasagem do investimento brasileiro em educação comparado a outros países do mundo. Segundo o relatório, o gasto acumulado por aluno entre 6 e 15 anos de idade no Brasil (38.190 dólares) equivale a 42% da média do gasto por aluno em países da OCDE (90.294 dólares). No entanto, o valor é superior ao investido em 2012, quando correspondia a 32%.

“Aumentos no investimento em educação precisam agora ser convertidos em melhores resultados na aprendizagem dos alunos. Outros países, como a Colômbia, o México e o Uruguai obtiveram resultados melhores em 2015 em comparação ao Brasil muito embora tenham um custo médio por aluno inferior. O Chile, com um gasto por aluno semelhante ao do Brasil (40.607 dólares), também obteve uma pontuação melhor (477 pontos) em ciências”, aponta o documento.

Para Alavarse, a questão do investimento é crucial e deve se complicar nos próximos anos. “O problema evidenciado pelo Pisa não é a posição que o Brasil ocupa na lista, mas como fazer com que as crianças aprendam e para isso é preciso de investimentos e políticas públicas de aprendizagem. Agora, com a PEC do congelamentos dos gastos, a tendência é que isso só piore no futuro”.

Patrícia concorda sobre a necessidade de aumentar os investimentos em educação. “É muito importante, sobretudo em um país como o nosso que está em um patamar já baixo de custo por aluno, além de ser essencial para a implementação de políticas como a de formação de professores que são pontos-chaves dos sistemas dos países que estão no topo do Pisa“.

O relatório também destaca que, no Brasil, 71% dos jovens na faixa de 15 anos de idade estão matriculados na escola a partir da 7a. série, o que corresponde a um acréscimo de 15% em relação a 2003, uma ampliação notável de escolarização. “O fato de o Brasil ter expandido o acesso escolar a novas parcelas da população de jovens sem declínios no desempenho médio dos alunos é um desenvolvimento bastante positivo”, diz o documento.

Para Patrícia, este é um argumento importante. “Se por um lado temos a notícia negativa do baixo desempenho dos alunos, por outro, conseguimos aumentar o número de alunos na escola mantendo um desempenho estável. Também conseguirmos reduzir o impacto do nível socioeconômico no desempenho do aluno, isto é, avançar um pouco na questão da equidade”, aponta.

Entre os pontos evidenciados como problemáticos está a alta taxa de reprovação do sistema educacional brasileiro. A média do País aparece como três vezes superior à da OCDE. “Temos uma cultura de reprovação que já mostrou não funcionar. Cerca de 36% dos alunos brasileiros que fizeram o Pisa foram reprovados em algum momento da vida escolar e já temos diversas evidências que reter aluno não faz com que ele aprenda mais, pelo contrário, só reduz seu engajamento com a escola”, diz Patrícia.

Fonte: http://www.cartaeducacao.com.br/reportagens/brasil-mantem-ultimas-colocacoes-no-pisa/


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