Medida Provisória 808/2017, que altera pontos da lei que 
instituiu a Reforma Trabalhista, perde a validade nesta segunda (23/04).
 A menos que isso seja revertido e os pontos sejam alvo de nova MP, o 
episódio passa para a história como o caso em que o Senado Federal 
demonstrou ao eleitorado brasileiro que é dispensável.
A Medida Provisória 808/2017, que altera pontos da lei que instituiu a
 Reforma Trabalhista, perde a validade nesta segunda (23/04), sem que a 
comissão mista do Congresso Nacional que a analisaria ter escolhido um 
relator – função que caberia a um deputado federal
A MP foi consequência de um acordo firmado entre os senadores da base
 aliada do governo federal e a Presidência da República no ano passado. 
Para evitar que mudanças levassem o projeto de novo à Câmara, Michel 
Temer, via senador Romero Jucá, prometeu algumas migalhas de concessão 
aos senadores que topassem jogar no lixo sua função de casa revisora.
Através de uma medida provisória, mudanças como condições de trabalho
 para grávidas e lactantes, trabalho intermitente e autônomo, jornada de
 12 horas de trabalho por 36 de descanso, entre outros pontos, seriam 
amenizados. Os senadores da base se deram por satisfeitos e apertaram 
“sim” no dia 11 de julho do ano passado. Temer, com isso, conseguiu 
mostrar serviço a grandes empresários e ao mercado financeiro – que 
patrocinaram sua chegada e manutenção ao Palácio do Planalto.
Nem bem o corpo da reforma esfriou e o presidente da Câmara Rodrigo 
Maia avisou que iria barrar qualquer MP que tentasse mudar o projeto. 
Vale lembrar que as alterações originais eram insignificantes, mantendo o
 coração da reforma: a priorização da negociação entre patrão e 
empregado acima do que está na lei. Cerca de mil emendas foram sugeridas
 à Medida Provisória.
Agora, a Medida Provisória caduca. O governo federal deve emitir um 
decreto para alterar a contribuição para a Previdência Social relativa 
ao trabalho intermitente, mas a maioria daquilo que havia sido acordado 
com os senadores não deverá ser alvo de nova MP. Se isso se confirmar, 
para serem aprovados, esses pontos dependerão de projeto de lei.
Os senadores-empresários e senadores que representam empresários, que
 são a maioria, devem ter pensado como o palhaço do hambúrguer: Amo 
muito tudo isso.
De duas, uma:
1) Ou parte dos senadores da base do governo foi enganada por Michel 
Temer, que prometeu algo que não podia cumprir porque dependia de uma 
Câmara dos Deputados que não estava interessada em mudanças no texto que
 ela própria havia aprovado. Nesse caso, é preocupante que tenhamos como
 senadores políticos tão mirins que acreditam até em Temer.
2) Ou esses mesmos senadores fizeram parte de uma grande peça de 
teatro, combinando o jogo com Temer para fingir que realmente estavam 
interessados em fazer mudanças, quando – na verdade – precisavam apenas 
de uma justificativa para terem terceirizado seu papel de câmara 
revisora, deixando passar uma versão mais agressiva de uma Reforma 
Trabalhista que traz dores de cabeça aos empregados. Nesse caso, nada de
 novo em Pindorama.
Em qualquer uma das possibilidades, o resultado é que os trabalhadores perdem.
E, de qualquer forma, a menos que isso seja revertido e os pontos 
sejam alvo de nova MP, o episódio passa para a história como o caso em 
que o Senado Federal demonstrou ao eleitorado brasileiro que é 
dispensável.
Pois uma vez que abriu mão, por conta própria, de sua tarefa 
constitucional de revisar a decisão da câmara baixa do parlamento, 
trouxe argumentos para aqueles que defendem o seu fim e a transformação 
daquele espaço coberto de tapete azul sob o ”prato voltado para baixo” 
do prédio do Congresso Nacional em algo mais edificante, como uma casa 
de shows ou um ginásio poliesportivo.
Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em 
Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos 
armados em diversos países e o desrespeito aos direitos humanos no 
Brasil. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do 
Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e 
professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG 
Repórter Brasil e conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas 
Contemporâneas de Escravidão.
Fonte: UOL
Data original da publicação: 21/04/2018
Sindicato dos Professores de Macaé e Região  

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