Banda do Silêncio, formada por estudantes da Zona Norte, foi até convidada a tocar em Portugal.
Há dez anos, Fabio Bonvenuto, professor de música da rede municipal, recebeu uma missão que poderia parecer ingrata: ensinar jovens surdos a tocar instrumentos em uma fanfarra. Uma década depois, ele se orgulha de olhar para a Banda do Silêncio e ver ouvintes e deficientes auditivos se apresentando lado a lado.
O projeto começou em 2005, quando 12 alunos da Escola Municipal de Educação Bilíngue para Surdos Madre Lucie Bray, no Jaçanã, Zona Norte de São Paulo, pediram à direção para terem aulas de músicas. “Já havia trabalhado antes com cegos, mas com surdos, nunca. Vim sem saber nada de libras (língua brasileira de sinais)”, lembra Bonvenuto.
Por não existir uma linguagem universal para surdos na música, o professor se viu obrigado a improvisar. “Adaptamos a regência. A nota semibreve, por exemplo, se diz ‘redonda’ em espanhol. Então, uso com os alunos o sinal de redondo em libras quando quero essa nota.”
O músico decidiu juntar alunos ouvintes da outra escola onde dava aula com os surdos da Madre Lucie Bray. As duas turmas integraram-se bem.
“Muitos dos surdos ensinam as libras para os ouvintes. Quando viajam para apresentação, formam grupos e andam todos juntos, protegendo-se. Todos ganharam com isso”, disse. “Por mais simples que seja a participação do aluno surdo, é sempre possível inseri-lo no grupo. Ele percebe a sua importância.”
Coroando o trabalho, em 2013 a Banda do Silêncio foi convidada para se apresentar em um festival por várias cidades de Portugal. “É possível fazer inclusão por meio da música. Mas só acontece porque não participam só surdos.”
APRENDIZADO/ Para o tecladista João Marcelo Gomes Bortoleto, 16 anos, a convivência com os surdos ajudou a mudar sua visão de mundo. “Nunca havia tido contato com eles antes da banda, não conseguia entendê-los. Hoje já sei responder a algumas perguntas e tento ajudar quando posso qualquer pessoa com deficiência. Se para mim existem situações difíceis, para eles deve ser mais complicado ainda.”
Emily Vieira, 13, que participou da viagem para Portugal, conta como se sente quando toca o seu instrumento favorito, o trompete. “Quando subo ao palco e vejo as pessoas assistindo, as famílias, fico emocionada. Mas preciso ter paciência e muita calma. E quando vêm as palmas, fico muito contente.”
Já o percussionista João Vitor, 14, disse que as dificuldades da surdez não tiraram sua vontade de aprender a tocar tambor. Tanta dedicação lhe rendeu um prêmio em 2014, durante uma competição. “Gosto do contato com os meus amigos. Depois de entrar na banda, decidi que vou trabalhar no mundo da música. Eu me esforço demais para aprender e fico muito feliz com essas vitórias na vida.”
Fonte: Diário de São Paulo
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