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segunda-feira, 27 de abril de 2020

“Esse vai ser um período mais do que perdido para a educação", afirma Daniel Cara



 

Professor da USP explica males do ensino à distância implementados por secretarias estaduais de educação de todo o país

 

Daniel Cara é o entrevistado dessa semana no BDF Entrevista, que vai ao ar nas redes sociais do Brasil de Fato e na Rede TVT, todas as sextas-feiras, às 20h. - Jane de Araújo/Agência Senado

As ações de isolamento social por conta da pandemia de coronavírus atingiram em cheio a educação. A Unesco, organização das Nações Unidas para o tema, aponta em estudo recente que, pelo menos até o final de março, 165 países já haviam fechado suas escolas, deixando cerca de 1,5 bilhão de alunos sem aulas. 

No Brasil, como em outros lugares do planeta, escolas públicas e privadas estão estimulando o ensino à distância para manter os alunos em sua rotina de aprendizado. No entanto, segundo o professor da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo), Daniel Cara, as aulas de educação à distância não substituem as aulas presenciais. 

“Esse vai ser um período mais do que perdido. Eu lamento dizer para os pais que acreditam nisso, que não está funcionando. As crianças estão ficando esgotadas e não estão aprendendo. No fim da pandemia, essas crianças vão ter problemas decorrentes de saúde mental, pela pressão que está sendo exercida”, afirma 

Cara é o entrevistado dessa semana no BDF Entrevista, que vai ao ar nas redes sociais do Brasil de Fato e na Rede TVT, todas as sextas-feiras, às 20h. Para o professor, que também é membro da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, o distanciamento dos alunos do ambiente escolar tem efeitos danosos. 

“Todos as pesquisas sérias em termos de pedagogia, neurociência e didática, vão mostrar que a educação depende, especialmente no processo inicial, que vai da creche até o ensino médio, de vínculo. E o vínculo não é só entre educador e educando, como diria Paulo Freire, é um vínculo também dentro da turma. Os alunos aprendem entre si”. 

Para realizar as aulas de ensino remoto, as secretarias estaduais de educação de várias partes do país firmaram acordos com grandes conglomerados de tecnologia.. Segundo Daniel Cara, esses contratos “estão, na verdade, estimulando um processo de educação à distância que interessa mais aos empresários da educação”.

“São as companhias de telefonia, que podem fornecer a tecnologia 4G, as plataformas de educação à distância e as fundações empresariais que já vendem esse pacote na prática”, afirma.  

“Antes mesmo de a gente ter uma noção concreta do impacto da pandemia sobre a educação, eles já tomaram uma série de iniciativas para estruturar grandes negócios. A gente sabe que o negócio da educação no Brasil é de mais de R$ 200 bilhões. E os empresários, lógico, querem uma fatia desse bolo”.

O governo de João Dória, em São Paulo, afirmou que no próximo dia 27 de abril começa o período letivo dos mais de 3 milhões de alunos da rede pública estadual. As aulas serão ao vivo, ou em vídeo aulas.

Daniel Cara lembra que a maioria das casas nas periferias de São Paulo não têm aparelhos que possam receber os conteúdos. “A vida é dura, as pessoas acham que todo mundo gasta uma fortuna com celular. Não é verdade. E não existe unidade computacional disponível. As redes estaduais estão fingindo que estão ensinando e o povo não vai fingir, ele não vai aprender mesmo”, aponta.

Cara ainda fala sobre a pressão exercida contra os professores, que em sua maioria, não têm experiência para tocar as aulas à distância e comenta a decisão do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que pretende aplicar o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) em meio à pandemia de coronavírus.

Confira:

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

 
Edição: Camila Salmazio

 

 

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