segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Ditado?


Em tese, as aulas de escrita deveriam ser dedicadas à escrita “de verdade”: escrever para o jornal da classe, contar histórias, fazer resumos ou relatórios “reais”. Além disso, escrever cartas ou torpedos ou tuitadas para pessoas reais. Neste caso, sugiro escrever para jornalistas (ou jornais e revistas), concordando ou discordando de certas posições, e para autoridades. Tem a ver com a possibilidade de publicação efetiva dos textos.

É melhor que essas atividades não sejam de faz de conta, mas sejam para valer, sejam partes de projetos. Para dar um exemplo claro, já que estamos na era dos gêneros (!!): só vale a pena escrever (treinar, aprender, etc.) editoriais se houver um jornal ou revista (de papel ou online) que os publique. Editoriais fora de seus “suportes” reais são apenas dissertações.

Mas, se as coisas forem assim, há lugar para o ditado? Convenhamos que se trata de uma prática rara. Quem é que vai “copiar” ditados na vida? Em casa, fazendo uma lista de compras da família? Em um escritório, como se vê às vezes em filmes? Executivos, ministros, etc. podem fazer isso. Numa aula, a atividade pode parecer estranha.

Mas o ditado pode tornar-se interessante, se posto no seu lugar. Pode ser uma espécie de “torneio” (meninos contra meninas?). Deveria ter como objeto palavras ou expressões cuja grafia oferece problemas para a turma (o que se pode ver nos textos). O ânimo entre os concorrentes deve ser cordial. Nunca se deveria apelar para o ditado como forma de avaliação. Adotado de alguma forma, a pronúncia de quem dita (não precisa ser o professor) deve ser real, usual, normal. Isto é, não “ler as letras”, mas falar normalmente as palavras ou trechos ditados (por que deveriam ser palavras soltas?).

Mas há outra estratégia relevante a ser levada em conta, no caso dos ditados (aqui, retomo a coluna anterior). Suponhamos que os alunos estejam errando a grafia de palavras como chapéu / papel.

A sugestão é ditar palavras deste tipo, com ênfase nas que oferecem este problema em seu final. Ditam-se palavras como “final / banal”, pronunciadas normalmente. Haverá alunos que escreverão “final / banal” e outros que escreverão “finau / banau”. Depois, dita-se “finalidade / banalidade”, e espera-se o resultado. 

Pode-se perguntar logo como escreveram “final / banal”. Conforme as respostas, comentar que os pares de palavras estão relacionados. Que a escrita de “finalidade / banalidade” ensina a escrever “final / banal”. E que eles podem fazer este “raciocínio” muitas vezes. Quando escreverem “Brasil”, pensem em “brasileiro”, por exemplo; ao escreverem “Blumenau”, pensem em “blumenauense”.

Como ficou claro na coluna passada, esta não é uma receita (que deve dar sempre certo). Não sendo uma receita, os “problemas” ajudam a entender o que é um sistema de escrita. Por exemplo, esta “técnica” não resolve os problemas de troca de “l” e “u” em sílabas não finais (auto / alto). Mas ajuda a aumentar a consciência morfológica.

Aliás, esta é uma das razões pelas quais muitos portugueses não gostam do acordo ortográfico. Para eles, eliminar a consoante “muda” em facto é perder uma informação histórica. Seria o mesmo que, para brasileiros, escrever da mesma forma “acender” e “ascender” (tirando o “s” desta última): perder-se-ia a informação de que as duas palavras têm origem diferente.


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