Educadores debateram hoje (15), no Rio, em sessão especial do Fórum
Nacional do Instituto de Altos Estudos, a qualidade do ensino básico
aplicado nas escolas do país. O tema foi abordado no painel “Transformar
a educação, para que a educação transforme o Brasil”, dentro da sessão
especial do Fórum Nacional do Instituto Nacional de Altos Estudos
(Inae), que vai até amanhã na cidade.
Diminuir a quantidade de
conteúdo obrigatório para o ensino fundamental e médio e garantir que
todos os alunos adquiram as habilidades básicas foi uma das sugestões
feitas por professores como um dos meios para melhorar a educação no
Brasil.
O painel contou com a participação do ministro da
Educação, Renato Janine, e do senador Cristovam Buarque, ex-ministro da
pasta, e de outros educadores. Para o professor Simon Schwartzman, do
Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), o principal gargalo
na educação está no ensino médio, um modelo criado há 70 anos e voltado
para o ingresso na faculdade.
“Se conseguirmos destravar o
ensino médio e abrir um pouco para experimentos, para iniciativas,
conseguiremos avançar. É muito importante acabar com esse
enciclopedismo, que não leva a nada, 15, 16 matérias que o aluno tem que
passar correndo, e nunca chega a aplicar. Nós temos que permitir que os
alunos optem e passem por diferentes áreas de formação e
aprofundamento”. Ele destacou a importância do ensino técnico e
profissional como uma opção de ensino médio, e não um complemento, como
ocorre hoje.
O ex-secretário de Estado de Educação do Rio de
Janeiro Wilton Risolia afirmou que o ensino médio não atende as
necessidades nem de quem cursa, nem do país. “Nosso ensino médio é uma
commoditie às avessas. Não tem fundamento nenhum nem base teórica exigir
que o menino que quer ser médico, e o que quer ser jornalista, façam
rigorosamente o mesmo ensino médio. Ou que o percurso formativo de quem
quer ser músico e quem quer ser engenheiro seja a mesma escola”,
afirmou.
O ministro Renato Janine destacou que houve muitos avanços no ensino técnico e que o Brasil ficou em primeiro lugar no WorldSkills Competition,
realizado em agosto, em São Paulo. Ele lembrou que o ministério vai
lançar amanhã (16) as bases comuns nacionais dos componentes
curriculares, que devem contemplar cerca de 60% do que será ensinado nas
escolas. O restante deve ser preenchido por conteúdos regionais, como
prevê o Plano Nacional de Educação, aprovado no ano passado.
“Penso
que, neste momento, a grande contribuição da base comum é sairmos de
discussões genéricas para entrarmos na discussão de conteúdo: no que
deve ser ensinado. E de competência: o que os alunos devem aprender. A
educação é uma área no Brasil que demanda muita discussão, sobretudo
sobre métodos pedagógicos, aprendizagem, e foco no aluno, nas boas
práticas. Temos grandes avanços nisso, mas creio que podemos ir muito
longe”.
Para o senador Cristovam Buarque, é necessário uma
reforma total no sistema educacional brasileiro, partindo da
federalização do ensino para que a qualidade chegue a todas as cidades.
“Um núcleo comum federal com a escola municipal não vai acontecer. As
pessoas esquecem a pobreza das cidades. Tem cidades no Brasil cuja
receita anual da prefeitura não chega a cem reais por pessoa.
Como é que
vai dar uma boa escola, como é que vai pagar o professor, como é que
vai exigir um professor de qualidade, se eles são escolhidos na própria
cidade, não vem de fora? Os funcionários do Banco do Brasil não são
escolhidos na própria cidade, vem de fora. Os juízes vem de fora, os
delegados vem de fora. A professora é da cidade”.
Para o senador,
a reforma curricular deve incluir o horário integral e a escolha de
disciplinas pelo próprio aluno. “O aluno quer aprender violão, tem que
ter espaço para ele como disciplina violão, tem que ir atrás do gosto do
aluno. Agora, tem que ter um núcleo central, todos têm que ter:
história do Brasil, geografia, noções de matemática, português, como
falar bem. Mas a partir daí, química, deixa para alguns, não precisa
todos saberem química. Então, não diminui o número de disciplinas,
diminui o número de disciplinas obrigatórias e aumenta as que o aluno
escolhe”.
Segundo Cristovam outros pontos que vão contribuir para
melhorar a qualidade do ensino são formação e seleção do professor e
dedicação exclusiva. “Professor qualificado e dedicado na sala de aula,
professor que dá aula em três escolas não dá bem em nenhuma, tem que ser
dedicado”. Ele acrescenta também avaliação do professor e capacitação
para o uso das tecnologias. “A criança não aguenta uma aula no quadro
negro mais, é uma violência para uma criança que nasceu vendo televisão,
computador, internet, celular”.
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