13 de maio – Dia Nacional de Luta contra o Racismo:
129 Anos da Abolição um dia de reflexão para os afro-brasileiros
129 Anos da Abolição um dia de reflexão para os afro-brasileiros
O preconceito nasce da ignorância e é fruto da
falta informação a respeito da questão abordada. Todos os dias mais de 100 milhões
de brasileiros, se levantam e cumprem sua árdua jornada de trabalho sem se dar
conta da verdadeira história de seu país e de seus antepassados.
Os afro-brasileiros somam mais da metade da
população do país, mas suas origens se escondem sob o manto da escravidão que
lhes tirou a identidade e reduziram sua cultura, linguagem e filosofia ao
estereótipo religioso.
Para resgatar a memória das lutas e dos
movimentos de resistência, o Sinpro Macaé
e Região desenvolve o “Projeto Roda de
Conversas”. São conversas temáticas norteadas por alguns convidados e que
levam a reflexões e à participação dos presentes.
A primeira Roda de Conversa trabalhou sobre 13
de maio, hoje tido como o “Dia Nacional da Denúncia Contra o Racismo”
e o Sinpro Macaé e Região convidou os professores Fábio Silva da Rocha e a professora Cátia Ferreira Fernandes para abortarem o
tema: “129 Anos da abolição, um dia de
reflexão para os afro-brasileiros”.
A ressignificação do dia 13 de maio
-oficialmente celebrado por ser a data que foi assinada a Lei Áurea, em 1888, e
que extinguiu o regime de escravização do negro no Brasil – é uma proposta do
Movimento Negro brasileiro e que vem ganhando terreno ao longo dos últimos
anos. Assim, reconhecendo esses esforços, a diretoria do Sinpro Macaé e Região
entende e adota essa data como o “Dia Nacional da Denúncia Contra o Racismo”.
A conversa foi fomentada para provocar o debate
em meio a atividade cultural desenvolvida na programação. O professor Fábio
Rocha (professor de História das redes Estadual RJ, municipal de Macaé e da rede particular)
abordou o significado de o Brasil ser o último país nas Américas a extinguir
oficialmente a escravização do negro.
Para Fábio Rocha, os milhões de descendentes de
africanos escravizados assim permanecerão enquanto não tomarem as rédeas de sua
própria narrativa histórica. Aos afrodescendentes foi negado o papel de
personagem histórico e os negros são tratados como predicados, tutelados pelos
interesses de uma elite que em um dado momento tomou consciência e bondosamente
os libertou.
“Não é bem assim, -assegura o professor- nenhuma transformação e revolução na sociedade aconteceu sem luta.”
“Não é bem assim, -assegura o professor- nenhuma transformação e revolução na sociedade aconteceu sem luta.”
“Quando a princesa Isabel assinou a Lei Áurea,
a escravidão já se tornava inviável no país e as revoltas já se somavam por
todo território. No plano internacional, a escravidão também já era inaceitável.
Libertar os escravos foi apenas a formalização para um novo momento histórico
para os afrodescendentes que foram postos à margem da sociedade. O jogo
prosseguiu com a tentativa de embranquecimento do país através da abertura da
imigração de europeus e as perseguições e ao tolhimento de direitos até os anos
de 1940.”
“A situação só começou a mudar a partir de
meados dos anos 50, quando os afrodescendentes de destaque assumiram sua condição
na sociedade e o racismo deixou de ser velado. No entanto, surgiu em seu lugar
o mito da democracia racial e a marginalização da cultura ancestral.”
Aculturação
A marginalização da cultura e da história
africana e dos afro-brasileiros se tornou lugar-comum no país. O negro liberto
foi abandonado e suas linguagens, forma de se portar e vestir, culinária e
saberes foram tratados como formas primitivas ou frutos de uma religião que era
motivo de cadeia nos anos anteriores a 1950, conforme retratava Jorge Amado.
Essa aculturação e alienação dos
afrodescendentes foi abordada pela professora Cátia Fernandes . Cátia que hoje é professora de
literatura aposentada pela rede pública estadual conta da dificuldade de aceitação
e afirmação desse povo. A professora, de tez branca, conta como ela própria
sofria preconceito quando decidiu aprender Ioruba, frequentar o candomblé e a
usar trajes característicos da cultura africana.
“O negro, seu tipo físico, seu cabelo pixaim,
suas ancas avantajadas, sua religiosidade, sua comida tudo isso foi
desmerecido. Minhas alunas se envergonhavam dos cabelos, do porte físico… elas
se envergonhavam de não corresponder ao padrão estabelecido de um país que se
queria branco. Me recriei no candomblé para descobrir e resgatar essa cultura.
Enfrentei preconceitos e lutei contra eles para resgatar a auto-estima que meus
alunos já não conseguiam resgatar.”
“Nas escolas, mesmo depois de se criar a
obrigatoriedade de se incluir a cultura e história africana na base curricular
há uma enorme resistência. Quando se fala da cultura africana, qualquer que
seja o tema abordado remete ao imaginário religioso e as religiões africanas
foram proibidas e perseguidas por mais de meio século com os negros libertos.”
“Esse preconceito é fruto ou causa da
desinformação. O iorubá não é a língua do candomblé, ele é a língua dos povos
que tinham o candomblé como matriz religiosa. O vatapá, acarajé, o xinxin não são
comidas de santo, assim como os turbantes não são um traje de fé, fazem parte
da tradição e da cultura dos povos africanos. Mas no imaginário popular, no
imaginário das pessoas criadas à luz da religiões oficializadas e da cultura de
massas padronizadas tudo que é africano deve ser relegado, primeiro para
remeter à religiosidade e dessa para o comportamento primitivo. O negro
escravizado não juntou restos de porcos e feijão-preto para criar a feijoada, isso
é uma lenda que se apropria de uma comida portuguesa e a relega aos negros para
forjar uma história que não lhes pertence.”
Bate-papo
A roda de conversa esquentou com os presentes
declarando suas percepções do racismo. Desde a criança que chora pelo cabelo
pixaim, até os livros e debates universitários que se recusam a ver a colonização
das Américas com o extermínio dos povos nativos e a escravização dos africanos
como o maior holocausto da história. Na universidade, parece que se acredita
que os milhões de mortos ao longo de quatro séculos fazem parte do processo
civilizatório. Como se civilização fosse oprimir, matar e aculturar.
Ao fim, a direção convidou a todos e todas para a formação do COLETIVO
DE RESPEITO ÀS ETNIAS E COMBATE AO RACISMO
para a manutenção do fórum de debate e a organização do seminário de
formação.
Diretoria do Sinpro Macaé e Região
Sede – Macaé
Endereço: Rua
Teixeira de Gouveia, nº 1169 sala 206
Bairro Centro –
Macaé
Tel.: (22)
2772-3154
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