A filósofa norte-americana Judith Butler, que foi alvo de ataques de
ódio durante sua passagem pelo Brasil na última semana, respondeu às
manifestações de intolerância que sofreu nos últimos dias. Em vídeo
publicado pela TV Boitempo, Butler comenta os discursos agressivos dos quais foi vítima e aponta para a escalada mundial conservadora.
“O mundo que os conservadores querem destruir, o mundo gay e lésbico, o mundo trans,
o mundo feminista, já é muito poderoso. Eles não têm nenhuma chance de
destruí-lo”, disse a intelectual de 61 anos. Butler também afirmou que
esse mundo “está sendo cada vez mais aceito e, quanto mais é aceito, com
mais raiva eles ficam”.
“É muito difícil para as pessoas que têm se beneficiado dessa
dominação e se beneficiado do caráter hegêmonico do casamento
heterossexual entender que outras pessoas que não são heterossexuais
possam querer se casar, ou pessoas que não querem se casar, mas querem
viver juntas e ter filhos, ou que mulheres possam querer ter filhos por
conta própria através do uso de tecnologia reprodutiva, ou trabalhadoras
do sexo possam querer ter direitos pelo trabalho que fazem e
aposentadoria quando forem idosas”, disse Butler.
“Todas essas reividicações (…) embaralham a família heterossexual”,
afirmou a filósofa que, entretanto, salientou que “existem
heterossexuais casados e com filhos que também apoiam o casamento gay e
lésbico, ou apoiam pessoas transexuais, ou apoiam pessoas intersexo, ou
apoiam, mães solteiras, ou tecnologia reprodutiva, (…) então nem todos
os heterossexuais são tão defensivos, nem todas as famílias
heterossexuais pensam: ‘Ah, toda família deve se parecer exatamente como
a nossa'”.
Assista ao vídeo completo publicado pela TV Boitempo.
Intolerância
Butler veio ao Brasil para promover seu mais recente livro publicado
no Brasil, “Caminhos divergentes: judaicidade e crítica do sionismo”,
lançado pela editora Boitempo neste ano, e para participar do seminário
“Os Fins da Democracia”, realizado no Sesc Pompeia, na última
terça-feira (07). Durante o seminário, manifestantes se reuniram em
frente ao Sesc Pompeia para protestarem contra a presença e as ideias de
Butler.
Enquanto outros manifestantes se juntavam para dar apoio à filósofa,
cartazes com discurso de ódio e insultos eram proferidos pelos
conservadores, que também queimaram um boneco de pano com o rosto de
Butler.
Na manhã da última sexta-feira (10), Butler foi agredida ao embarcar
no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Segundo relatos de testemunhas,
a escritora estava na área de check-in quando foi perseguida
por uma mulher que segurava um cartaz com a foto desfigurada de Butler e
gritava repetidos xingamentos, além de empurrá-la com o cartaz feito de
madeira e cartolina.
(do Brasil de Fato)
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