Um relatório lançado pelo UNICEF mostra que universalizar o ensino
médio com qualidade permanece, ainda hoje, um dos principais desafios da
educação no País. Ainda que nas duas últimas décadas os indicadores de
acesso e de permanência tenham evoluído, o Brasil apenas conseguirá
universalizar o ensino médio em 30 anos se as condições atuais na
educação prevalecerem.
É o que mostra a publicação 10 Desafios do Ensino Médio no Brasil,
apresentada hoje no Seminário “Ensino Médio no Brasil: sujeitos, tempos,
espaços e saberes”, que está sendo realizado entre 11 e 13 de março, em
Belo Horizonte, pelo Observatório da Juventude da Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG).
De 2004 a 2014, o percentual de adolescentes de 15 a 17 anos
matriculados no ensino médio aumentou de 47,5% para 59,5%, uma evolução
melhor que em anos anteriores. No entanto, cerca de 1,7 milhão de
adolescentes de 15 a 17 anos (16,3% dessa população) ainda estão fora da
escola, segundo dados da Pnad 2011. Entre os que estão matriculados,
35,2% (em torno de 3,1 milhões) ainda frequentam o ensino fundamental.
“O Brasil conquistou grandes avanços no ensino médio, mas agora é
preciso acelerar esse processo e garantir a qualidade do ensino”, diz
Mário Volpi, coordenador do Programa Cidadania dos Adolescentes do
UNICEF no Brasil. “Isso será possível por meio de metodologias de ensino
que estejam em sintonia com o contexto, as vivências e as expectativas
dos próprios adolescentes.”
Por essa razão, além de trazer análises e levantamentos estatísticos,
o relatório do UNICEF apresenta os desafios apontados por 250
adolescentes que estão fora da escola ou em risco de abandoná-la. O
objetivo da pesquisa, realizada pelo Observatório da Juventude da UFMG,
foi entender o que os impede de permanecer na escola e progredir em seus
estudos.
Foram realizadas entrevistas por meio de grupos focais nas cidades de
Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Belém (PA), Fortaleza (CE), São
Paulo (SP) e Santana do Riacho (MG) entre outubro e dezembro de 2012 e
entre maio e novembro de 2013.
Trabalho precoce, gravidez e violência familiar e no entorno da
escola, falta de acesso à escola na zona rural e ausência de proposta
pedagógicas inovadoras são alguns dos desafios apontados pelos
adolescentes entrevistados, independentemente do lugar onde vivem.
Allan Weskley, de 18 anos, estudante de Belo Horizonte, uma das
cidades incluídas na pesquisa, contou que vivencia alguns desses
problemas em sua escola. “As turmas começam com 40 alunos e terminam com
25. Todo ano vemos a mesma coisa. Eu converso com meus amigos que
pararam e escuto sobre a dificuldade que existe em conciliar trabalho e
estudo”, relatou o jovem, que faz parte de um grupo de 80 adolescentes
que vai participar do seminário.
Nas entrevistas, os alunos de diferentes cidades fizeram críticas ao
currículo, que consideram distante de sua realidade. “Gostaria que os
professores deixassem as matérias mais simples, ensinassem alguma coisa
que fizesse parte de nossa vida”, disse um adolescente de Fortaleza, que
abandonou a escola no ensino fundamental.
O tema da violência esteve presente na pesquisa. Uma adolescente de
Brasília que parou de estudar durante o ensino médio relatou: “eu parei
de estudar por causa da guerra [disputa entre grupos rivais do tráfico]
(…) Tenho medo de ir para a escola e eles tentarem fazer alguma coisa
comigo, me matar. Aí, eu não vou mais para a escola”.
Outro ponto levantado pelos entrevistados é a relação que dos alunos
com professores. Segundo eles, a escola e os professores não abrem
espaços para os alunos se manifestarem. Eles afirmaram que são
infantilizados e não são considerados nas decisões sobre o cotidiano
escolar. “Tem dias que eu nem mato a aula, a aula é que me mata”, disse
um adolescente de Brasília que está cursando o ensino fundamental.
Material inovador
Como parte dos esforços para superar esses desafios, será lançada no
seminário desta semana a coleção de Cadernos Temáticos Juventude
Brasileira e Ensino Médio. A coletânea foi elaborada em formato de
cadernos temáticos, com 13 cadernos referentes aos temas abordados nos
módulos do curso e um caderno com propostas de atividades e oficinas que
cada professor poderá desenvolver na escola.
Acesse o relatório na íntegra aqui.
Fonte: Unicef
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