De que maneira uma educação voltada para o meio ambiente pode
impulsionar o surgimento de uma cidade educadora? Na busca por respostas
para essa complexa questão, o Seminário “Da Educação Ambiental Escolar à
Cidade Educadora” reuniu gestores, educadores e estudantes das DREs
Jaçanã-Tremembé (zona norte) e Penha (zona leste) na última sexta-feira
(18/9), nas dependências da UMAPaz (Universidade Aberta do Meio Ambiente
e Cultura de Paz), localizada no Parque Ibirapuera, zona sul de São
Paulo.
De acordo com Lia Salomão, uma das coordenadoras do Programa Carta da
Terra em Ação, o evento pode ser visto como uma continuação do
Seminário Comunidade e Escola: Semeando a Cidade Educadora, realizado no
início de março. “Quando aquele encontro terminou, vieram algumas
diretoras de Diretorias Regionais de Ensino (DREs) falando que tinham um
monte de escolas com ações parecidas e queriam divulgar essas células
de transformação”, lembra. “Hoje estamos respondendo a uma demanda.
Muito importante esse momento de nos juntar, nos fortalecer e ver que
não estamos sozinhos.”
Já na abertura, o público foi instigado a aprofundar suas reflexões
sobre uma cidade que educa pela professora e pesquisadora da Faculdade
de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP), Sonia Kruppa. “A
cidade é o espaço do conflito e da contradição, e é isso o que nos
educa. Isso acontece desde cedo: a criança, quando está confortável, não
precisa se expressar. É a situação adversa que a leva a se expressar, a
avançar”, observa, afirmando que a grade curricular não costuma ir além
dos conteúdos disciplinares. “Por outro lado, trabalhar com a cidade é
formar valores.”
Quando professores citaram que uma das barreiras que dificultam a
retirada dos alunos da sala de aula para a cidade é o alto custo de
aluguel do transporte coletivo, Sonia defendeu um diálogo mais direto e
menos burocrático entre as Secretarias Municipais de Educação e
Transportes. “Se depender da secretaria de educação arrumar transporte
para todas as escolas saírem, ela não vai dar conta”, apontou. “Uma
cidade educadora tem que ser intencionalmente educadora, resultado de um
arbítrio, de uma escolha.”
Em seguida, representantes das DREs relataram o trabalho que tem sido
feito nas escolas com o objetivo de aproximar cidade e território,
educação e meio ambiente. A diretora da DRE Penha, Mirtes Moreira,
afirmou que a educação ambiental não deve ser tratada como
“penduricalho”, e sim como parte fundamental do currículo escolar. “A
escola educa não apenas pelo currículo, mas também pela gestão
democrática, por sua edificação sustentável.”
Mirtes elencou uma série de projetos desenvolvidos nas EMEIs, EMEFs e
CEIs sob sua direção: o Projeto Composta SP, que distribuiu
composteiras e realizou oficinas sobre o tema; o segundo encontro de
escolas conferencistas do meio ambiente; um curso que focava a
sustentabilidade como direito humano; um encontro de saberes e práticas
sustentáveis; e a Mostra EcoFalante, produzida em parceria com o Sesc
Itaquera.
Em 2015, a DRE Penha também organizou uma mostra de trabalhos de
estudantes sobre a crise hídrica em São Paulo. “É a escola saindo dos
seus muros para melhorar a vida na comunidade”, arrematou Mirtes. Ela
ainda deu dicas para os interessados em levar a educação ambiental para
dentro de sua instituição de ensino. “É essencial ter uma gestão
democrática – a começar pelas crianças, dando vez e voz a elas,
independentemente da idade, pois elas têm muito a contribuir e não têm
todas as barreiras que um adulto tem. Isso também ajuda a trazer os pais
para dentro – quando você faz o primeiro, automaticamente acontece o
segundo, pois os pais prestigiam as ideias que saem naturalmente da
cabeça dos filhos, sem ser uma imposição da escola.”
Para Shirley Diniz, diretora da DRE Jaçanã-Tremembé, a educação
ambiental deve estar representada no currículo escolar pois ele “é um
processo, é o dia a dia, por isso ele está vivo, muda o aluno, muda a
comunidade”. Elisangela Cardoso, professora da EMEF Célia Regina, no
Parque Novo Mundo, afirmou que o histórico da região precisa ser
valorizado dentro da escola, para que a criança entenda que pode ser
protagonista da cidade. Para tanto, o estudo do meio “Descobrindo o meu
pedaço” revelou aos estudantes como são corresponsáveis pela
transformação da sociedade.
Os alunos também puderam mostrar como estão envolvidos com a educação
ambiental. Através de vídeos, cartazes e painéis, jovens da EMEF Dr.
Fábio da Silva Prado (DRE Penha) exibiram o projeto Você economiza, o
planeta agradece, no qual perguntaram para a equipe da escola quais as
atitudes que tomaram diante da crise hídrica. De acordo com Rosana,
professora da EMEF, “alunos que participaram do vídeo pensaram no
assunto, discutiram em casa e passaram a economizar mais.”
Também na DRE Penha, o CEI Jardim Popular deu oportunidade de ação
para as crianças que, em meio à falta d’água e o forte calor, estavam
preocupadas com a hidratação dos pássaros que habitam o jardim.
Construíram então bebedouros com garrafas pet para manter os animais
vivos. “Isso evidencia uma preocupação interessante com os valores de
respeito à vida. Qual de nós, adultos, faria isso?”, questionou Mirtes.
Por Danilo Mekari, do Portal Aprendiz.
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