Por Pedro Bocca*
A
crise econômica iniciada em 2008 alterou o cenário econômico e
geopolítico mundial. Por um lado, a recessão nos países mais ricos –
especialmente Estados Unidos e membros da União Europeia – propiciou
condições para que países em desenvolvimento como Índia, Brasil, Rússia
e, principalmente, China se consolidassem como importantes economias
mundiais. Por outro lado, reaqueceu a busca por recursos naturais,
sempre fundamentais para a recuperação econômica em momentos de crise.
Os combustíveis fósseis, gás natural e petróleo, são ainda mais
importantes neste momento.
Os conflitos internacionais gerados
pelas potências nos últimos anos têm em comum duas características:
envolveram países não necessariamente aliados dos EUA e União Europeia, e
são parte da disputa por petróleo e gás natural. A invasão da Líbia (9ª
maior reserva de petróleo do mundo), o conflito gerado na Ucrânia
(envolvendo reservas de gás natural), a guerra civil forjada na Síria
(país aliado da Rússia, que possui controle de gasodutos no Oriente
Médio) e a crise político-econômica na Venezuela (maior reserva de
petróleo do mundo, e um dos dez maiores produtores) não podem ser
entendidas sem este pano de fundo.
Não é coincidência, portanto,
que o grande avanço da mídia e da direita no Brasil tenha ocorrido
justamente no tema do petróleo. A Petrobras, a partir das denúncias de
corrupção, sofre uma intensa campanha de desmoralização que tem como
alternativa sua privatização. A privatização da Petrobrás garantiria que
suas ações estratégicas (como a exploração do pré-sal, que levou o
Brasil a possuir uma das maiores reservas de petróleo do mundo) não
dependessem mais dos interesses nacionais, mas sim dos interesses do
mercado. E ninguém domina mais os interesses do mercado do que os países
ricos.
Prova disto é a queda forjada no preço dos barris de petróleo. O petróleo é tratado no mercado internacional como uma commodity,
ou seja, um produto natural cujo preço de exportação é o mesmo para
qualquer comprador, independente de sua origem. E quem dita este preço? O
mercado.
Em setembro de 2014, o preço do barril de petróleo no
mercado internacional era de US$ 95,89. Em agosto de 2015, fechou o mês
abaixo dos US$ 40. Uma queda de quase 60%, que afetou drasticamente a
economia de países produtores de petróleo e derivados, como a Rússia, a
Venezuela e, no longo prazo, o Brasil.
A questão do petróleo
envolve muito mais do que a gasolina que alimenta nossos veículos
diariamente. Está profundamente envolvida com a soberania nacional, com a
capacidade econômica (e política) dos países e é o principal eixo de
disputa geopolítica mundial. Entregar a Petrobras para o mercado
causaria efeitos desastrosos. Mantê-la nas mãos do Estado e do povo
brasileiro é uma das principais ferramentas que temos para melhorar a
posição de nosso país no mundo.
*Pedro Bocca é graduado em Relações Internacionais pela Unesp e mestre em Ciência Política na PUC-SP.
Fonte: Brasil de fato
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