sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Escola revê sua identidade a partir de fortalecimento de conselho escolar


Instituição envolvida: EMEF Dr. Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira
Lugar: São Paulo / SP
Público alvo: estudantes do Fundamental I e II e Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Iniciativa: pública
Duração: de 2010 até os dias atuais
Financiamento: Mais Educação São Paulo

Quando a diretora Solange Amorim chegou à antiga escola Campo Limpo I (atual EMEF Dr. Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira), em 2010, encontrou uma unidade escolar bastante tradicional, com traços de uma gestão escolar autoritária, presença de conselho escolar figurativo e um plano político pedagógico burocrático que pouco dialogava com as demandas locais.

Para romper com a estrutura aparentemente consolidada, a gestora apostou na estratégia do fortalecimento do conselho escolar para que, uma vez representativa, a instância pudesse apoiar a escola a repensar a sua identidade e a promover processos mais significativos para toda a comunidade escolar.

O trabalho teve início com momentos políticos de discussão. Foram propostos alguns debates em que a gestora buscou trabalhar pautas como: “O que é um conselho?”; “Qual o papel de um conselho?”; “Qual a importância de sua implementação, acompanhamento e avaliação?”. A ideia era fazer com que os integrantes percebessem o conselho como um espaço de debate e de formação do ponto de vista político, cultural e pedagógico.

Busca identitária

Uma das primeiras discussões foi sobre a identidade escolar. Muitos, sobretudo os estudantes, queriam dar um novo nome à escola. Para eles, a grafia Campo Limpo I – encontrada com outras variações pela rede como Campo Limpo II, Campo Limpo III – acabava por padronizar as unidades.


Estudantes foram os principais proponentes da pauta pela troca do nome da escola.


A estratégia foi organizar, via conselho, uma eleição para que toda a comunidade escolar – estudantes, professores, funcionários, familiares e funcionários – pudessem defender as suas sugestões, posteriormente validadas em um plebiscito. Ao término, o nome vencedor foi Sócrates, fazendo referência ao camisa 8 do Corinthians e, sobretudo, à sua luta pela democracia, tônica sobre a qual a escola passava a se organizar. Surgia então a Dr. Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira.

Segundo Solange, a mudança identitária foi também precursora de outras reflexões. “Começamos a discutir nosso currículo, que tipo de currículo a gente pretendia construir, que tipo de aluno queríamos formar, olhar para o lugar em que estávamos, o público que atendíamos, a diversidade do nosso território“, coloca Solange.

Por um currículo crítico

Embora reconheça as tensões que se dão sobre as perspectivas curriculares, em constante disputa, Solange entende que a EMEF Sócrates vem conseguindo defender um currículo crítico, a partir do debate entre seus diversos atores, o que levou a outra organização escolar no que diz respeito aos seus tempos, espaços e ofertas educativas.

A unidade, que recebe cerca de 1100 alunos nas etapas do Fundamental I, Fundamental II e Educação de Jovens e Adultos atende no turno regular e também no contraturno pelo programa Mais Educação São Paulo, com a oferta de oficinas de grafite, cinema e rádio e rodas de conversa.


Alunos trilharam sequência didática sobre democracia.

Recentemente, a escola também se estruturou para oferecer aulas abertas. Os encontros acontecem uma semana por mês, do meio dia às 13h30 em formato de roda de conversa. A primeira aula teve como tema “Democracia” e contou com a presença de um ex-preso político para conversar com os estudantes sobre o período daditadura civil-militar e a importância da luta pela democracia. Segundo Solange, a ideia é garantir na agenda a presença de outras temáticas, até o final deste ano.


Sequência didática

Com a recente polarização política, a unidade organizou uma sequência didática para contemplar o desejo dos estudantes de entenderem mais sobre o cenário. O fechamento desse percurso aconteceu no último sábado, 30 de maio, com a apresentação dos trabalhos feitos pelos estudantes, e uma mesa de debate com a presença de convidados e representações sociais.

Quanto à gestão do tempo e dos espaços, a escola também passou a organizar as salas de aula em salas ambientes o que, para Solange, melhorou a interlocução entre estudantes e professores.

“Esses espaços são continuamente revisitados para que possamos reestruturar os espaços, os materiais e os recursos disponíveis. A ideia da ambiência é dar mais autonomia ao estudante, que circula de um lado para outro, e potencializar a sua aprendizagem”, avalia.

Abertura ao território

Para a gestora, outro ponto forte do projeto político pedagógico da escola é a dimensão cultural. A unidade vem buscando parcerias no território para qualificar os seus processos pedagógicos e estabelecer uma articulação local.

É dentro dessa perspectiva que se dá a parceria com a Unidade Básica de Saúde (UBS) do Campo Limpo. Solange explica que a escola faz uso do mapa de territorialização feito pela rede, e que os dados sociais e educacionais incidem diretamente sobre a diversificação curricular proposta. “Nós não estamos aqui para produzir conhecimento pelo conhecimento, o trabalho é de empoderamento desses sujeitos, para que eles sejam capazes de produzir a sua própria visão de mundo”, constata a gestora.


Escola busca diversificar aprendizagem com apoio de atores locais.

A escola também trava diálogo com outros equipamentos locais via Coletivo Território do Povo, instância também criada a partir de uma das pautas discutidas no Conselho Escolar. “Iniciamos uma discussão sobre um terreno baldio ao lado da escola que acaba servindo como ponto de acúmulo de lixo, rota para o tráfico ou mesmo de situações violentas”, relembra a gestora.

Como primeira estratégia de interlocução com a comunidade, o conselho organizou uma reunião ampliada que previu um encontro com as famílias. Da discussão, saiu a proposta de construção de um galpão de cultura capaz de contribuir na oferta daeducação integral a crianças e adolescentes.

A pauta ganhou a adesão de outras representações locais e acabou por configurar o coletivo que hoje conta com a Associação de Amigos do Jardim Olinda (Assajo),Sarau do Binho e Brechoteca (a atuação desses dois equipamentos vai para além do coletivo na escola; a Brechoteca atua com formação de leitura e o Sarau do Binho promove incentivo à leitura de poesia), a escola de Samba Acadêmicos do Campo Limpo, Brava Companhia de Teatro, além de um grupo de grafite e uma produtora cultural.

O grupo já realizou uma ocupação no terreno no ano passado com o intuito de chamar a atenção para o potencial cultural da área hoje abandonada. O coletivo se articulou para requerer junto à subprefeitura a limpeza local e ministrou atividades como oficinas de brincadeiras, rodas de capoeira, música e dança; intervenções artísticas com grupo de grafite; além de ações sociais, como orientações preventivas pela UBS e cortes de cabelo para a comunidade. Também foi realizado um cortejo poético em que a escola saiu às ruas do Jardim Olinda reivindicando a construção do galpão com apoio no resgate da cultura popular, foram realizados cortejos poéticos e algumas dramatizações. As duas manifestações devem acontecer novamente este ano, a ocupação em 15 de maio e o cortejo em agosto.


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