Não se discute a necessidade urgente de o país produzir mão de obra 
qualificada e pesquisa de ponta. Mas, ao mesmo tempo, não queremos 
investir para que isso aconteça, como se avanços educacionais, 
científicos e tecnológicos acontecessem por geração espontânea. O 
governo federal afirma que chegou ao seu limite e não quer mais negociar
 com os professores das universidades em greve. Apresentam números para 
mostrar que a categoria não tem do que reclamar.
E nada melhor que
 pessoas que mexem com números para detalhar melhor a bomba-relógio que 
estamos armando. Pedi a Ricardo Summa e Gustavo Lucas, professores do 
Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, um 
texto sobre demandas que estão sendo apresentadas pelos grevistas para 
evitar que o futuro das universidades federais brasileiras seja tão 
sombrio quanto o que se desenha no horizonte. Segue.
Perdas reais: o professor ingressante e o futuro das universidades federais
A
 maioria das universidades federais se encontra em greve há quase 80 
dias. Além das precárias condições de trabalho, a remuneração é um 
motivo de insatisfação para grande parte dos docentes, principalmente 
aqueles que estão nas maiores universidades, nos grandes centros 
urbanos. O governo federal, não contente com esse cenário, ainda 
pretende mandar um projeto para o Congresso Nacional que confere perda 
real para os novos professores ingressantes e um rebaixamento funcional 
destes.
O secretário de educação superior do Ministério da 
Educação, Amaro Lins, considerou que a proposta do governo de reajuste 
salarial e reformulação da carreira para os professores federais 
tornaria a profissão atraente, no sentido de incentivar profissionais 
qualificados a ingressar e permanecer na vida acadêmica (ao invés de 
buscarem maiores remunerações em outros empregos públicos ou privados). 
De fato, conseguir bons quadros para as universidades federais é de 
grande importância para que, pelo menos, seja mantida a qualidade do 
ensino, da pesquisa e da extensão ali realizados. Mas, em nossa 
avaliação, esse objetivo será mais difícil de ser alcançado do que já é 
hoje, caso o governo ignore o apelo da maioria das instituições que 
ainda estão em greve e envie o projeto de lei ao Congresso. São duas as 
razões para isso: uma relativa à remuneração e outra à carreira em si.
Remuneração:
 o aumento para o professor ingressante com doutorado que o governo 
propõe é inferior à inflação. Supondo que esta será igual a 4,5% nos 
próximos anos, valor da meta perseguida pelo governo, em termos reais 
(ou seja, o aumento do salário nominal descontado pela inflação) o que 
ocorre são perdas de salário para os professores doutores 
recém-contratados em relação ao que recebiam em 2010 (a data inicial de 
julho de 2010 foi escolhida por ter sido o último reajuste com ganhos 
reais). No gráfico abaixo, a linha azul representa a evolução do salário
 nominal com reajustes que cobrem apenas a inflação (em outros termos, 
representa a evolução do salário nominal de forma a manter o salário 
real constante), e a linha vermelha representa a evolução do salário 
nominal com os reajustes propostos pelo governo.
Quando
 a linha azul está acima da vermelha, significa que o salário do 
ingressante, em termos de poder de compra real, está abaixo do que era 
em julho de 2010. Percebemos, portanto, que em nenhum momento o 
ingressante conseguirá recuperar a situação de julho de 2010. Quando uma
 universidade federal, em março de 2015, quiser contratar um ingressante
 com doutorado, terá que atraí-lo com uma remuneração 7% menor em termos
 reais do que o fazia em 2010. Isto sem contar que, caso a inflação 
fique acima do centro da meta, fato que ocorreu nos anos de 2010 e 2011,
 essa perda será ainda maior.
Carreira: um problema importante da 
proposta é que esta promove um rebaixamento do cargo inicial de 
professor doutor. No modelo atual para o plano de carreira, ele entra 
como professor Adjunto I. No modelo proposto pelo governo, o professor 
doutor recém-contratado entraria como professor auxiliar, e teria que 
passar três anos para chegar à condição de Adjunto I. Entraria, 
portanto, ainda mais longe do topo da carreira.
Devido a esses 
dois elementos mais gerais, nos parece bastante claro que a carreira de 
professor universitário federal tornar-se-á cada vez menos atrativa. O 
problema só tende a se agravar porque o governo já criou, para os 
próximos três anos, 19.569 novas vagas apenas para professores do 
magistério superior. Considerando que hoje a quantidade de professores 
em atividade nas universidades federais consiste em um pouco mais de 68 
mil, isso representa uma expansão de quase 30% do quadro docente.
Foi
 divulgado nos principais meios de comunicação que a contratação de 
professores ocorrida no passado recente (em que a abertura de concursos 
foi muito menor do que a que está prevista para o futuro) para algumas 
áreas e universidades deu-se com dificuldades, devido à falta de 
profissionais com a qualificação requerida pelos concursos. Na verdade, a
 razão para esse fenômeno é muito simples: o salário inicial e as 
condições de trabalho afastam os melhores candidatos, muitas vezes antes
 mesmo de completar o doutorado, que acabam em empregos de melhor 
remuneração, tanto no setor público quanto no setor privado.
Esperamos
 que o governo desista de enviar esse projeto e corrija esse grave 
problema, para evitar que esses novos 19.569 futuros ingressantes não 
sejam os novos insurgentes daqui a três anos.
Fonte: Blog do Sakamoto.
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